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Uma nova razão para gratidão

Cinco “pequenos” passos que podem fazer a diferença no mundo.

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[dc]E[/dc]sta manhã, eu enterrei um esquilo. Não ficou nenhuma marca dos dentes do gato. O sujeito insolente parecia ter acabado de se encolher para dormir no buraco, eu tinha cavado entre os prematuros crisântemos (planta milenar da Ásia). Assim que eu jogava terra em sua pequena sepultura com a espátula cheia de terra, lembrei-me sorrindo dos jogos de infância, de enterrar aves, insetos e ratos mortos. De repente, eu pensei nos humanos – milhares e milhares – no qual ninguém nunca enterrou. Porque nem mesmo sobraram seus corpos, vítimas de violência de Hiroshima e Nagasaki para Manhattan.

9-11Gratidão? A própria palavra parece totalmente fora de lugar, até mesmo ofensivo, sob dadas as circunstâncias. E ainda que falarmos de “dada” as circunstâncias é significativa. O que for dado é dom; e a resposta adequada a todo o presente é a gratidão. Mas qual poderia ser o presente neste caso? O presente que nos foi dado pelo despertar dos ataques de 11 de setembro é uma oportunidade sem precedentes. O presente dentro de cada dom é oportunidade. Para nós, nos dias de hoje, é a oportunidade de acordar – acordar para a loucura da violência e contra a violência. Afinal, assistimos a ligação mais recente em uma sequência de vingança pela vingança. Esta recente retaliação certamente não seja a primeira, mas nos dá uma oportunidade única para acordar e para tornar isso permanente.

Embora isso seja estranho, muitos de nós conseguimos ignorar o círculo vicioso da violência contra violência – nossa própria e a dos outros – contanto que estivesse longe de acontecer. Estávamos dormindo. Este foi um despertar áspero. E agora? Podemos mostrar-nos gratos pelo fato do despertador nos chamar e por ficar acordado, atento. Um perigo reconhecido e enfrentado é interrompido ao meio. O perigo é a violência – independente de quem a comete, terroristas ou governos legítimos. Nenhuma retórica, nenhuma postura pode cobrir o fato de que violência gera violência. Temos que quebrar esse ciclo de loucura.

[quote bar=”true” align=”right” width=”280px”]Aqui no meu coração eu posso transformar o medo em corajosa confiança, e agitação e confusão no lugar de serenidade.[/quote]A violência tem suas raízes em cada coração. É no meu próprio coração que eu devo reconhecer o medo, agitação, frieza, alienação, e o impulso para ofuscar a raiva. Aqui no meu coração eu posso transformar o medo em confiança corajosa, agitação e confusão em quietude, isolamento em um sentimento de pertencimento, alienação em amor, e reação irracional em senso comum. A imaginação criativa de gratidão irá sugerir a maneira de agir nesta tarefa para cada um de nós. Vou listar aqui cinco pequenos gestos que pessoalmente me ajudaram mostrar a minha gratidão para o alerta, acordar e permanecer atento.

1- Toda gratidão expressa confiança. A pessoa desconfiada nem mesmo reconhecerá o presente como sendo um presente: quem pode provar que não seja um suborno, uma isca, ou uma cilada? A gratidão tem a coragem de confiar; assim deste modo, supera-se o medo. O ar ficou eletrificado pelo pavor dos dias atuais, um receio que a mídia e os políticos fomentam e manipulam. Aí mora o maior perigo: o medo eterniza a violência. Mobilize a coragem do seu coração, assim que a verdade desperta aqueles que estão sendo violentos. Diga hoje para alguma pessoa medrosa uma palavra que lhe dê coragem.

2- Porque a gratidão expressa coragem, que espalha a calma. A calma descrita desta maneira é bastante compatível às profundas emoções. De fato, a histeria toda desenfreada da massa revela a confusão em vez do profundo sentimento – agitação superficial em vez daquela sincera corrente de compaixão. Junte os compassivos de verdade, aqueles que sejam calmos e fortes. Da serenidade da abrangência do fundo do seu coração. Segure a mão de alguém hoje sem pressa e espalhe a calma.

3- Quando você fica agradecido, seu coração se abre – abre para outros, abre para surpresa. Desde a época do despertar, vemos exemplos inesquecíveis dessa franqueza: estranhos ajudando estranhos sempre de maneira heróica. Outros se afastam, se isolam, atrevem-se bem menos do que outras vezes para se olharem um ao outro. A violência começa com o afastamento. Quebre este estereótipo. Faça contato com pessoas que você geralmente ignora – contato olho a olho pelo menos – com o funcionário da cabine do pedágio, o segurança do estacionamento, alguém no elevador. Hoje, olhe para algum desconhecido dentro dos olhos, e perceba que não existem desconhecidos.

4- Você pode se sentir agradecido ou não mostrar importância, mas nunca estes dois comportamentos ao mesmo tempo. A gratidão leva embora a falta de importância; não há espaço para as duas no mesmo coração. Quando você é grato, você sabe que pertence a um grupo daqueles que praticam o dar e receber, daí concorda com o que se diz a respeito. Esse “sim” é a essência do amor. Você não precisa de palavras para expressar isso; um sorriso fará colocar seu “sim” em ação. Não deixe isso ter sentido pra você se o outro sorrir de volta. Dê a alguém um sorriso inesperado hoje e você contribuirá em compartilhar a paz na terra.

5- O que sua gratidão faz por você é tão importante quanto o que ela faz para os outros. A gratidão impulsiona seu senso de participação; seu senso de participação em resposta impulsiona seu senso comum. Seu “sim” para o desejo de participar harmoniza você às preocupações com um que todos os humanos compartilham. Depois deste despertar, nada mais faz sentido exceto o senso comum. Nós temos somente um inimigo, nosso inimigo comum: a violência. O senso comum nos diz: não podemos impedir que a violência simplesmente pare de agir com violência; a guerra não é o caminho para a paz. Ouça as novas informações hoje e coloque pelo menos um item para testar o senso comum.

Os cinco passos que estou sugerindo aqui são pequenos, mas funciona. O que ajuda é que eles são pequenos: Qualquer um pode adotá-los. Imagine um país cujos cidadãos – talvez até mesmo seus líderes – sejam corajosos, calmos, e abertos um para o outro; um país em que o povo perceba que todos os seres humanos caminham juntos como uma família, e devem agir em conformidade; um país guiado pelo senso comum. Na medida em que mostrarmos a nós mesmos não mostrando ódio, mas agradecidos, isso se torna realidade. Quem teria imaginado que a gratidão poderia continuar a brilhar com esse novo esplendor nesses dias escuros? Que isso ilumine nosso caminho.

Irmão David Steindl-Rast



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